Alzheimer pode ser transmissível como a doença da vaca louca, sugere estudo
Segundo os pesquisadores, o mecanismo básico da doença de Alzheimer é parecido com o das doenças causadas por príons - proteínas capazes de modificar outras proteínas
Opinião do especialista
Neurologista e geneticista do Hospital Israelita Albert Einstein
Os resultados, publicados na edição online do periódico Molecular Psychiatry, publicação da prestigiosa Nature, mostraram uma potente disseminação infecciosa da doença de Alzheimer em modelos animais.
A maioria dos casos de demência é provocada pela doença de Alzheimer. As causas da doença são desconhecidas, mas ela parece ser mais frequente em certas famílias e também parece ser influenciada por anomalias em genes específicos. Na doença de Alzheimer, partes do cérebro sofrem um processo degenerativo, as células se destroem e as que sobram ficam com a capacidade reduzida. No cérebro, aparecem tecidos anormais chamados placas senis, além de proteínas anormais. As placas senis são formadas pelo depósito de uma proteína chamada beta-amiloide, no espaço que existe entre os neurônios.
Saiba mais
PRÍONÉ uma proteína que se converte em uma forma anormal e capaz de causar o mesmo efeito em outras proteínas. Quando elas atingem um certo número, a doença aparece. Doenças causadas por príons, como a doença da vaca louca, uma variante da doença de Creutzfeldt-Jakob, são adquiridas quando se come carne bovina contaminada, ou derivados dela, mas também surgem espontaneamente. Não existe cura para doenças causadas por príons.
"Pegamos um modelo de camundongo normal que espontaneamente não desenvolveria qualquer lesão cerebral e injetamos uma pequena quantidade de tecido do cérebro humano com Alzheimer no cérebro do animal", disse Soto. "O camundongo desenvolveu Alzheimer ao longo do tempo, e os danos se espalharam para outras partes do cérebro. Estamos trabalhando atualmente para saber se a transmissão da doença pode acontecer na vida real ou em rotas naturais de exposição."
O resultado da pesquisa não significa, necessariamente, que pessoas que convivem com alguém que sofra da doença de Alzheimer venham a contraí-la. Doenças causadas por príons são muito pouco frequentes: a doença de Creutzfeldt-Jakob atinge uma a cada milhão de pessoas, especialmente adultos com mais de 60 e 70 anos. A pesquisa ainda está em sua fase inicial, e resultados observados em camundongos muitas vezes não se repetem em humanos. Além disso, jamais a doença de Creutzfeldt-Jakob foi transmitida por contato humano (mesmo íntimo) ou transfusão de sangue de pessoas que sofrem da doença.